O Bioma Cerrado

O bioma Cerrado se estende por mais de 2 milhões de quilômetros quadrados (Km2) do território brasileiro, o que equivale a quase 23% do país. Segundo dados do MapBiomas, o Cerrado é o segundo bioma que mais perdeu vegetação nativa de 1985 a 2017, com 21 milhões de hectares (Mha) devido à expansão agropecuária, menor apenas que na Amazônia (35,9 Mha) [5]. De fato, cerca de 80% do Cerrado já foi extensamente modificado pelo homem por causa da expansão agropecuária, urbana, atividades de mineração e construção de barragens e estradas. Somente 19,15% correspondem a áreas nas quais a vegetação original ainda está em bom estado [6].

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Cerrado abriga 5% da biodiversidade do mundo. É a savana com a maior diversidade de árvores, onde vivem 12 mil espécies de plantas nativas, além de mais de 2,5 mil espécies de vertebrados (mamíferos, aves, réptes, anfíbios e peixes) e cerca de 67 mil espécies de invertebrados. Dentre as espécies nativas, 20% são endêmicas do bioma e poucas se encontram nas áreas protegidas do Cerrado, com pelo menos 137 espécies de animais e 615 espécies plantas seriamente ameaçadas de extinção.

O bioma Cerrado infelizmente lidera o ritmo da degradação ambiental em extensão e intensidade, atualmente com apenas cerca de 2,85% de sua área preservada por unidades de conservação de proteção integral. Ao todo, o ecossistema tem cerca de 60 UCs, que protegem integral ou parcialmente cerca de 8% da área total do bioma.

No Estado de Minas Gerais, o Cerrado apresenta a maior área sob proteção integral, com aproximadamente 8.000 Km², que representam apenas 2,4% da área do bioma no Estado. O Cerrado possui o maior total em área de UCs (27.000 km²) equivalente a 8,2% da área do bioma no Estado e com 5,8% da área protegida sob uso sustentável [7]. A destruição do bioma Cerrado em Minas Gerais caracteriza-se pelo desrespeito à Lei, visto que as áreas desmatadas ilegalmente são maiores que as áreas desmatadas com autorização legal. A região Noroeste do Estado, onde a Fundação Acangau concentra sua atuação na criação, manutenção e expansão de unidades de conservação, é justamente onde ocorre a destruição do bioma Cerrado com maior intensidade [8], onde a atividade conservacionista da Fundação Acangau se reveste de grande importância (Figura 3).

 Figura 3 | A região Noroeste do Estado, onde a Fundação Acangau concentra sua atuação na criação, manutenção e expansão de unidades de conservação, é justamente onde ocorre a destruição do bioma Cerrado com maior intensidade, e onde a atividade conservacionista da Fundação Acangau se reveste de grande importância. Fonte: IEF/SISEMA [9].

O Cerrado também é considerado o berço das águas do Brasil, pois concentra nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul e a cabeceira de importantes rios, lagos e córregos responsáveis pela distribuição de água no Brasil. A degradação edáfica do Cerrado pela remoção da vegetação nativa, bem como o uso abusivo das águas para as atividades da agricultura e mineração provoca instabilidades hidrológicas [10] e a redução das águas superficiais e até subterrâneas, no último caso causando o fenômeno da “sêca subterrânea”. Uma das regiões mais afetadas pela escassez de água ou sua inacessibilidade é exatamente a região Noroeste do Estado de Minas Gerais, que concentra os desmates e as atividades da agricultura irrigada, citando-se também o uso da água para a mineração em detrimento dos usos ambientais e ecossistêmicos. Não por acaso, o Estado de Minas Gerais, através do IGAM-Instituto de Gestão das Águas de Minas Gerais declarou, em agosto de 2018, área de conflito nesta região [11].