Breve história da Fundação Acangau

A Fundação Acangau foi criada, em 1991, em Belo Horizonte, MG, Brasil. Seu núcleo de pesquisa e conservação ambiental situa-se em uma das Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs) da Fazenda Caetano, no Vale do Acangau (município de Paracatu, MG), generosa iniciativa da família Ulhoa, instituídas em 30 de dezembro de 1992 mediante as portarias 146-N e 147-N do IBAMA-Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, em áreas de, respectivamente 1184 e 1420 hectares [1]. Essa ação foi abraçada já no seu início por cientistas de peso como o geneticista e entomologista Warwick Estevam Kerr (USP e UFU) e a engenheira agrônoma Johanna Döbereiner (Embrapa).

O primeiro registro de pesquisa científica no Vale do Acangau remonta entretanto a 1818, quando da Missão Austríaca no Brasil. O médico, geólogo e botânico austríaco Johann Baptist Emanuel Pohl (1782-1834) relata sua passagem pela Fazenda Caetano no livro “Viagem no Interior do Brasil” (Figura 1).

Figura 1 | O médico, geólogo e botânico austríaco Johann Baptist Emanuel Pohl (* 23.02.1782 Böhmisch-Kamnitz; † 22.05.1834 Wien) descreveu sua estada no Vale do Acangau no seu livro ‘Viagem pelo Interior do Brasil’.

Desde 1897, gerações da família Ulhoa conservam e preservam as formações de Cerrado que têm sido objeto de investigações científicas, publicação de artigos, defesas de dissertações e teses orientadas por pesquisadores de universidades brasileiras como a UFMG, a USP, a UFU e a UnB.

O desenvolvimento científico dos usos sustentados dos ecossistemas nativos brasileiros foi iniciado no Vale do Acangau através de um trabalho em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG) iniciado em 1986. A área experimental de 30 hectares foi então doada à Fundação Acangau, visando a continuidade das pesquisas de longo prazo.

Entre 2002 e 2009, foi construído o Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP), um viveiro de mudas e o Laboratório de Campo Johann Baptist Emanuel Pohl, em áreas também doadas para a Fundação Acangau pela Professora Antônia Ulhoa, adjacentes à RPPN, seguindo planejamento cuidadoso e com autorização dos órgãos ambientais competentes, tanto da administração federal (IBAMA) quanto estadual (IEF-MG e FEAM). Essa infraestrutura tem servido de apoio logístico a grupos de pesquisa científica da UFMG, UFU, UnB, USP.

Em 2011, o governo estadual decretou a criação do Parque Estadual Paracatu, em área contígua à RPPN do Acangau. Juntas, as áreas ajudam a garantir o abastecimento de água potável aos 90 mil habitantes da cidade de Paracatu. Atualmente, a RPPN é uma área muito importante de pesquisa do Cerrado brasileiro, que é objeto de pesquisa de campo e experimentação por pesquisadores da UFMG, UFU, UnB e USP, contando com infraestrutura de alojamentos e laboratórios próprios para preparação de material científico.

Desde 2006, o grupo de pesquisa do professor Alexandre Salino do Departamento de Botânica da UFMG tem feito um extenso projeto de pesquisa com as plantas endêmicas de Cerrado encontradas na RPPN, resultando em algumas dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos científicos. Salino relata que 63 de um total de 118 espécies de pteridófitas ameaçadas de extinção em Minas Gerais (conforme diagnóstico de 2006 puderam ser encontradas “em unidades de conservação de proteção efetiva. Neste contexto é marcante a importância das RPPNs na proteção de espécies ameaçadas, principalmente as RPPNs do Santuário do Caraça, Mata do Sossego e Acangaú” [2].

No mesmo diapasão, o grupo de experts em Conservação do Estado de Minas Gerais considera as RPPNs do Acangau como áreas de grande importância para a conservação do Bioma Cerrado [3].